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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Maiakovski


                    MAIAKOVSKI




- Queres com bastante creme, teu chá?
Perdão! Camarada, sou tão displicente...
És da terra do café! E sob o sol ardente
do Ceará nasceste. Parente de Alencar.

Gostas de neve e frio? Gostas da Rússia?
Eu fui fiel cidadão soviético sem astúcia.

A minha poesia era de ideologia socialista.
Em época de cantar a épica revolucionária...

Até o povo compreender, a necessidade
de mudar da miséria para o que há de
ser a utopia realizada, cruz visionária.

Foi heróico e belo! Minha foice e martelo:
caneta e papel. A poesia também se presta
de espada e metralha, quando ela protesta.







O céu em lábaro do arrebol sonhado
tem só uma estrela, luz em prol da paz!
da prosperidade, vida, sol para todos!

Lavra na alma do povo este grão de
mostarda: a justiça! Com a liberdade
na retaguarda.O efeito será a mística
política da fraternidade de Gandi...

Nós somos todos irmãos, povos do mundo!
Estendam-se as mãos, operários da arte!
Em toda parte queremos o Bem e o Belo!

Em casa, no trabalho, na rua, na Pátria!
Nunca é fácil edificar um palácio
que tenha tudo que todos querem!

Venha visitar Moscou, será bem-vindo!
Converse com o povo, beba nosso chá,
nossa vodca, nossa alma! onde melhor
ela está! E escute teu coração sorrindo
bem próximo do nosso, a nossa poesia
sonhadora e tão emotiva, em sintonia
com a cordial índole brasileira,                                      em camaradagem hospitaleira!

Posso te oferecer também a lareira,
nosso melhor aconchego, talvez!
A cabana de qualquer camponês,




menos, mulher... Uma vez que cada
poeta sacrifica à Vênus amada
do seu jeito e maneira. Mas
garanto pão, amizade e alegria!
Tudo que a todos satisfaz!

Minha condição, porém, é outra agora.
Vim como espírito... Enfrentei fila
e espera... Para que psicografasses
esta minha apagada mensagem. Ora
por mim, sou triste e solitário, oscila
ainda em mil tortuosos impasses
de contraditória ilógica dialética
o meu pensamento metafísico...

Porque aquela minha soviética
doutrina social era equivocada
demais, tinha muito de ilibada
quixotesca compostura ética,

era mais uma bela poética
ideologia pessoal, a minha
alma nunca foi mesquinha.

Eu não padeci muito o pranto
A ranger de dentes na Geena.
                               
tinha a meu favor: materialismo
de sonhador! Luz que me acena,
em pleno abismo, a imensa
vitória do amor e da crença!















        MAIAKOVSKI NO ESTILO DE TAGORE.








Que diz
a terra à semente?
Que lhe segreda e revela
no seu silêncio subterrâneo?

A raiz,
o que sabe sobre o subsolo
da floresta virgem?
Qual sua intuição dos arcanos
e mistério das estações
ao longo dos anos?

O que se presume
de etéreo e líquido
na substância da nuvem,
que não existe no sangue,
na lágrima e no perfume?

O que conhece o horizonte
Além do azul da distância?
O vento sabe de onipresença?
E o tempo, escala a espiral
imensa ascendente da crença?

Agora, Aurora, pêndulo constante
que vai e volta incessante onda do
mar! Como somos mudando sempre
nessa alternância de estados, ora
em carne, ora em espírito... É o
que fui e sou nesse refluir de mim
mesmo, entre a saudade da terra
e a esperança filosófica do céu...

Não há absolutamente fim!
Asverus peregrino que erra,
sou assim, somos nós assim!
Da flor ao fruto, do néctar ao mel...

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